Vamos fazer uma brincadeirinha? Separe quatro dos seus pratos preferidos junte com sua bebida preferida e bata tudo no liquidificador. Fez isso? Legal, agora beba! Ficou bom? Não né?
E esse é o grande problema de Re/Member pra mim, faz uma mistureba de coisas boas e apesar de alguns bons momentos, não consegue ser muita coisa.
História
O filme começa com uma cena que serve para explicar a maldição do filme. Uma criança de 8 anos é esquartejada e tem sua alma presa por uma entidade que cria uma maldição. De tempos em tempos a “pessoa de vermelho”, no caso a menina assassinada vai aparecer e pedir para alguém encontrar os pedaços do seu corpo. Genérico? Muito, mas até aí isso não seria um problema.
Muitos anos se passam e vários casos de assassinatos brutais envolvendo crianças vão acontecendo, com uma pequena similaridade entre eles. Todas elas são desmembradas e uma parte do corpo não é achada.
Nos dias atuais conhecemos Asuka Morisaki (Kanna Hashimoto), uma jovem tímida, solitária e sem muito contato social. Porém as coisas mudam quando ela é transportada para um universo paralelo junto de 6 outros jovens, lá eles são perseguidos pela “pessoa de vermelho” e ambos são mortos.
Pois bem, ela acorda e o dia começa a se repetir. Ao chegar na escola ela e seus amigos percebem que algo estranho está acontecendo.
Basicamente temos aqui uma versão japonesa do filme A Morte Te Dá Parabéns (2017), o que teria tudo pra ser bom, mas o filme não soube o que fazer com isso.
Um filme de terror ou um dorama de ciclo temporal?
Vamos acompanhando os dias se repetirem com estudantes tentando achar as partes do corpo para tentar dar um fim na maldição. Tudo é feito da forma mais genérica possível, mortes aleatórias, CG de gosto duvidoso, etc. Chega a ser cansativo, pois nada ali é minimante interessante e nem o terror em si é bom, não assusta, não gera suspense, só tédio.
Porém é ai que o filme toma um rumo que me fez achar o filme muito acima da média (pelo menos até esse momento). O filme parece saber que tudo ali era simplório e genérico demais e se transforma numa espécie de dorama sobre a construção de amizade.
Então ele deixa de tentar (e falhar) ser um filme de terror e se foca nos seus personagens, sobre como se não fosse aquela situação absurda eles não teriam criado um elo de amizade. Nessa parte o filme vira um clipe musical sobre o despertar do amor e da amizade verdadeira, temos literalmente um “episódio de anime na praia” no meio do filme.
Se o filme tivesse se focado nisso, a linguagem de terror trash teria sido justificado pois elas seria apenas um recurso de linguagem. Só que aí ele resolve ser um filme de terror de novo e volta pra tentar solucionar a maldição deixando de lado aquilo o que ele tinha feito de bom. Ou seja, o filme esquece o que tinha de melhor pra se focar no que tinha de pior.
Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo
Além de querer ser muita coisa ao mesmo tempo, o filme se sabota ao tentar usar a metáfora do terror para refletir a solidão dos seus personagens, o que era pra ser bom vira um tiro no pé. O que é irônico, pois o filme se vende como um filme de terror dentro de um looping temporal, mas a pior coisa do filme é justamente o terror que ele se propõe a fazer.
E eu entendo que a ideia aqui era usar a linguagem e principalmente a estética de um filme de terror escolar japonês para servir de alegoria à solidão e até mesmo um certo niilismo dos estudantes. A solidão no caso é literalmente personificada no monstro do filme. Só que não funciona.
Acaba não sendo nem um filme de terror e nem um drama sobre amizade.
Mas nem tudo é um desperdício, quando o filme percebe que ser um filme de terror talvez não tenha sido a melhor escolha, ele resolve “apenas” usar o absurdo da situação para desenvolver seus personagens, e o filme melhora bastante.
Pena que faz isso por uns 20 minutos.
PS: O filme tem uma cena pós crédito que gera uma certa curiosidade e meio que muda a nossa percepção da protagonista, quem sabe não melhora na sequência?
Ok Doug, mas vale a pena?
Re/Member vai te fazer lembrar de muita coisa, e na maioria das vezes coisas melhores do que ele.
Trailer
Onde assistir?
Eu assisti Re/Member (2022) na Netflix.
Alguns filmes podem não estar mais disponíveis no catálogo dos serviços de streamings e nem a venda, mas estou sempre atualizando os links… então fique sempre de olho.
