Existe uma vantagem e uma desvantagem de eu ter visto Godzilla Minus One só agora, inclusive o filme chegou na Netflix no dia desse post, coincidência né?!

Mas qual a vantagem? A vantagem é que ver uma obra fora do hype faz você ter uma visão menos emocionada de tudo isso. O que especificamente nesse filme foi bom, pois eu falo sobre o Japão eu gosto do Japão, então eu já começo querendo gostar e passar pano.

Mas por outro lado tem a desvantagem, a desvantagem é que você vê muitas pessoas idolatrando um filme, você vai gerando um filme na sua cabeça, e por melhor que o filme seja ele nunca vai chegar naquilo que você criou na sua cabeça. E foi isso que quase aconteceu comigo.

Talvez seja um problema meu e não do filme, mas a graça de um produto artístico é essa, a subjetividade. Provavelmente quanto eu terminar de escrever esse post eu vou ter gostado mais do filme do que eu pensei que tinha gostado, acontece muito rs.

Godzilla Minus One - Ryunosuke Kamiki - Minami Hamabe
Eu teria casado no primeiro dia

História

Godzilla Minus One provavelmente é o filme mais pessoal da franquia Godzilla, no sentido que o foco não é necessariamente no monstro e nem na tentativa de destruí-lo (bom mais ou menos, é aqui um dos meus problemas com o filme, mas chegaremos lá).

Enfim, o filme é focado na história de Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um kamikaze “fracassado” que após sobreviver na guerra se vê um Japão em frangalhos tentado se recuperar depois das bombas nucleares. Mas como nada é tão ruim que não possa piorar, ele se vê no meio de um outro problema, uma criatura gigantesca aparece pra destruir o que sobrou.

Então um país que estava começando do zero, agora cai para menos um (por isso o nome do filme).

Como você deve ter percebido, não tem uma história mirabolante aqui. É uma história sobre sobrevivência, e aqui que mora um dos grandes trunfos do filme. Apesar de ser um filme de monstro, na verdade ele não é um filme de monstro é um filme sobre pessoas e principalmente, é um filme sobre o Japão.

Godzilla Minus One - Minami Hamabe
É o Gojira?!

Não é um filme de monstro?

Um dos grandes problemas da maioria das versões americanas (e também das japonesas, os filmes mais sérios digamos assim também são exceções no Japão) é um foco excessivo na criatura e no seu poder destrutivo. Mas se você não se importa com o que é destruído, que diferencia isso faz?

Então espertamente Godzilla Minus One volta as origens, nesse sentido lembrando muito o Godzilla de 1954, onde o foco não é bem na criatura em si, mas as consequências nas vidas humanas que uma criatura de tamanha magnitude pode fazer.

Assim como no filme original, Godzilla aqui serve como uma alegoria para o que o Japão estava passando na época. Se no filme de 1954, Godzilla representava os terrores de uma bomba nuclear, afinal não fazia nem 10 anos que as bombas jogadas pelos americanos explodiram por lá, aqui é um filme sobre o Japão, sobre a culpa japonesa na guerra, sobre como o Japão teria que mudar como sociedade após toda essa tragédia.

Não há como negar, o Japão depois da bomba teve que criar um nova identidade. E até hoje ainda não lida bem com suas escolhas do passado.

Godzilla Minus One - Ryunosuke Kamiki
Um Kamikaze que não se mata fracassou ou não?!

Um kamikaze fracassado?

O que seria um kamikaze fracassado? Kamikaze eram os pilotos de aviões japoneses carregados de explosivos cuja missão era realizar ataques suicidas contra navios dos Aliados no final da Segunda Guerra Mundial, o Japão fazia parte do Eixo (Alemanha, Italia e afins).

E porque eles faziam isso? O Japão basicamente já tinha perdido a guerra, então em uma medida desesperada o império/governo ordenou que seus pilotos fizessem isso como uma tentativa desesperada da guerra ter um virada. Inclusive um desses ataques (no porta aviões Pearl Harbor) foi o que fez com que os EUA decidissem jogar as bombas nucleares no Japão. Afinal de acordo com eles, era o único jeito de parar o Japão.

Então o filme usa esse fato histórico para fazer uma crítica direta à si próprio, ao governo e até mesmo a um nacionalismo e honra japonesa.

Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki) um piloto kamikaze, finge que seu avião está com defeito e por isso foge dessas missões, afinal ele queria viver (errado não tá). Porém quando chega em Tokyo ele não é bem recebido pelas pessoas, afinal ele foi covarde, não honrou o seu país (e eles também não estão errados).

Mas a questão é, será que a morte dele faria alguma diferença? De um lado temos o Japão tradicional que se mata pelo país e o do outro temos o Japão que quer viver para reconstruir o país.

Godzilla Minus One - Minami Hamabe
Mãe é quem cria!

Família tradicional japonesa?

Shikishima então passa todo o filme com essa culpa na cabeça, e vê nessa luta contra o Godzilla uma forma de auto redenção. Mas ainda tem um problema, agora ele tem uma família que depende dele (principalmente emocionalmente).

E mais uma vez o filme usa isso para discutir questões de gênero e de família, na verdade eles não são uma “família de verdade”, durante a guerra ele se une a Noriko Oishi (Minami Hamabe, que merecia mais tempo de tela aliás) e uma bebe órfã para se ajudar a sobreviver em um Japão destruído.

A relação entre eles é muito bem construída, inclusive o grande sacrifício aqui não é do homem, o que pra mim é o ponto humano mais alto do filme e me fez ficar puto da vida na hora (mas acho que perde a força no final a “la dorama rs”). Não vou contar o porque (talvez seja o grande plot twist do filme), mas quando você ver, ou se já viu o filme você vai entender o que eu quis dizer.

Eu entendo a transformação que o personagem teve, afinal agora ele de fato tem algo para proteger. Mas pra mim faltou ele completar a sua missão digamos assim. Seria mais impactante até, mas entendo que não era a proposta.

Godzilla Minus One
O melhor momento do filme, tanto estético quanto de importância.

E o Godzilla?

Se esse for o primeiro post meu que você leu é sempre bom repetir, eu não considero meus posts nem críticas e nem reviews, eu foco muito na história e na narrativa, porque pra mim é o que faz um filme ser filme. Inclusive to até repensando se devo ou não falar spoilers por aqui. Então se você espera uma análise técnica, focando em fotografia, escolha de ângulos, etc acho que não vou falar muito por aqui. Arte pra mim é mais o que eu sinto, do que o porque eu sinto rs

Mas enfim, vamos para o que interessa o Godzilla.

O Godzilla meu amigo, é maravilhoso. É uma criatura gigantesca e que mete medo, ele é literalmente uma força da natureza, ele não é anti herói, não está lá pra ajudar, ele está para destruir. Como se fosse o Japão pagando pelos seus pecados, e desta vez não tem ajuda de ninguém, é o Japão tendo que resolver os seus problemas.

Tecnicamente é quase perfeito, você percebe vez ou outra alguns probleminhas, como alguns movimentos robóticos do Godzilla, mas que até combina com a proposta desta versão do monstro. E convenhamos, estamos falando de um filme de 15 Milhões de dólares, mereceu o Oscar de Efeitos Visuais com louvor.

O filme acerta em fazer uma criatura descontrolada mas não invencível, sabe muito bem trabalhar com a escala dele (ele é menor que o da versão americana, mas parece maior de tão bem feito). Porém nem tudo é perfeito.

Acho a primeira versão dele desnecessária, poderiam ter economizado dinheiro aqui e usar mais no fim do filme. Mas a cena de destaque é da destruição de Ginza, é provavelmente a melhor cena de destruição da história do cinema. Não só esteticamente, mas em conceito e roteiro, afinal como disse antes, a gente se importa com as pessoas que estão ali.

E como o filme é uma grande alegoria, temos ali o Japão sendo destruído pelo Japão, afinal Godzilla foi um monstro criado pelas consequências de suas próprias ações, sublime.

Godzilla Minus One
Aterrorizante!

Ué Doug, gostou de tudo mesmo?

De fato, eu mesmo relendo até agora parece que estou falando do melhor filme de todos os tempos né? Só que não, e pra mim tem a ver quando filme deixa de lado sua história, e se foca na parte de ficção científica.

O segundo ato todo do filme é focado no planejamento de como eles vão derrotar o Godzilla, mas achei as cenas meio inchadas beirando a enrolação. O filme ainda contina com a sua crítica a Guerra e ao governo, afinal agora é o povo pelo povo. Não tem governo na área, é basicamente a iniciativa privada tentando salvar o Japão (te lembrou alguma coisa?), mas isso fica apenas em algumas frases expositivas e convenientes demais.

O filme perde pra mim no segundo ato uma certa “seriedade”, e flerta demais com filmes genéricos de monstros.

E veja bem, não é um problema gigantesco, talvez seja eu querendo achar pelo em ovo em um filme que eu tenha levado mais a sério que ele mesmo, mas pra mim destoou do começo e do filme do filme.

Godzilla Minus One - Ryunosuke Kamiki - Munetaka Aoki - Hidetaka Yoshioka - Kuranosuke Sasaki
Alguém precisa fazer o trabalho sujo (no caso limpar minas marítimas).

Ok Doug, mas vale a pena?

É perfeito? Não! Mas é provavelmente o melhor filme do Godzilla que eu já vi (e olha que já vi muitos), rivaliza com o Godzilla de 2014 (sim o americano).

Só não caia muito no hype criado para não criar expectativas demais.

Trailer

Onde assistir Godzilla Minus One (2023)?

Eu assisti Godzilla Minus One (2023) na Netflix.

Alguns filmes podem não estar mais disponíveis no catálogo dos serviços de streamings e nem a venda, mas estou sempre atualizando os links… então fique sempre de olho.

REVISÃO GERAL
História
Não é um filme de monstro?
Um kamikaze fracassado?
Família tradicional japonesa?
E o Godzilla?
Ué Doug, gostou de tudo mesmo?
godzilla-minus-oneGodzilla Minus One (ゴジラ-1.0) - Japão - 2023 - 2h 05 min. <br> Gênero: Ficção científica, Terror, Ação <br> Direção: Takashi Yamazaki. <br> Elenco Principal: Ryunosuke Kamiki, Minami Hamabe, Yuki Yamada, Munetaka Aoki, Hidetaka Yoshioka, Sakura Ando, Kuranosuke Sasaki, Saki Nakatani, Mio Tanaka.

2 COMENTÁRIOS

  1. Não é um filmaço perfeito, mas é um filmão melhor do que parece mesmo. Concordo sobre partes inchadas do filme, e não só na segunda metade, mas sim durante o filme todo aqui e ali, chegando a repetições. Discordo forte de ter faltado um encerramento melhor pra jornada do protagonista (aquele plot twist tem uma mensagem oculta se reparar bem na cena). A cena do ataque na cidade é boa mesmo. Sobre ele remeter ao Godzilla original, realmente, um filme mais sobre o Japão do que sobre um monstro gigante, mas Shin Godzilla tb fez isso muito bem tanto quanto Minus One fez (cada um em seu contexto).

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