Nankyoku Tairiku ou Antártida como foi o nome que a Netflix usou, é um dorama de 2011 que foi criado para comemorar os 60 anos da TBS (Tokyo Broadcasting System). Só como curiosidade, ela teve início em 1951 como uma rádio, se tornando a primeira empresa de noticias do Japão. Atualmente ela é considerada a terceira maior emissora de tv aberta do Japão, ela é basicamente a RecordTV do Japão.
Enfim, vamos para o que provavelmente você quer saber. O que eu achei de Antártida.

História
A história de Antártida de fato não é complexa, mas ela é densa. Principalmente se levarmos em conta que ela se passa em um período de basicamente dois anos, o que pode ser pouco, mas o dorama não economiza e detalha bem todos os acontecimentos, mesmo que deixando de lado coisas que o próprio dorama fez ter importância, mas falarei no fim do texto (e terá spoiler, mas eu avisarei antes).
Havia se passado 10 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão vivia uma crise internacional de confiança e uma crise interna também. O país tentava se recuperar de todas as formas, financeiramente, moralmente, recuperar o espírito do japonês de resiliência. E é aí que conhecemos Takeshi Kuramochi (Takuya Kimura) e seu sensei Suguru Shirasaki (Kyôhei Shibata) ambos professores universitários que resolvem fazer uma expedição de inverno para a Antártida (daí o título do dorama), pois eles acreditavam que isso podia mudar a imagem dos países em relação ao Japão e principalmente a imagem deles mesmos, recuperar o sentimento de um país que podia vencer a guerra mais importante de todas, a confiança em si mesmo, porém tem um pequeno problema.
O Japão tinha acabado de perder a guerra, não tinha a confiança dos demais países, países esses que foram seus rivais na guerra e que controlavam (até hoje inclusive) quem pode e quem não pode explorar o continente ártico. Então eles precisam primeiro convencer os países, o próprio povo japonês (afinal, talvez financiar esse tipo de viagem não fosse a melhor coisa para se fazer em um momento de recuperação) e claro o próprio governo japonês.

Um dorama denso
Lembra quando eu disse que o dorama tem uma história densa? Pois então, tudo isso que eu disse não é sequer metade do primeiro episódio (que inclusive eu acho um dos melhores do dorama). E embora denso, em nenhum momento é um dorama lento, muito pelo contrário, sempre está acontecendo algo, sempre sentimos que a história está avançando. Como gosto de dizer, uma história lenta é diferente de uma história sem ritmo e nisso Antártida é um show.
Enfim, Kuramochi e Shirasaki conseguem convencer os demais países que o Japão é capaz de chegar e estudar a Antártida, quer dizer, na verdade os países menosprezaram o Japão e deram pra eles a pior missão possível, passar o inverno na Antártida e em um lugar onde nenhum país conseguiu sequer chegar.
Então no primeiro episódio, que se você ver só ele já seria um filme incrível, vemos toda a preparação para o embarque, desde transformar um navio abandonado em um navio de pesquisa e “quebrador de gelo”, conseguir o apoio da população e um apoio (mesmo que tímido do governo), tanto que nessa primeira expedição a maioria das pessoas não tinha experiência alguma nesse tipo de navegação, eram todos professores, soldadores, estudiosos, gente que simplesmente não tenho visão de futuro, eram de fato amadores.

Neste sentido me lembrou um pouco o filme Godzilla Minus One, pois mostra o Japão tentando resolver os seus próprios problemas, é o povo pelo povo, é o espírito japonês sendo pondo a prova, pra só depois o governo entrar no meio (inclusive é quando o governo resolve de fato se envolver que as coisa começam a desandar, mas falarei disso só nos spoilers).
Inclusive é no primeiro episódio que tem a melhor cena do dorama, eu mesmo chorei demais. Empolgado com a viagem, um garotinho pobre que sempre carrega sua irmãzinha nas costas (um clara referência ao filme Túmulo dos Vagalumes), dá uma moeda para Kuramochi. É uma cena tão singela e linda ao mesmo tempo, que não apenas motiva o Kuramochi a seguir em frente e não desistir, afinal ele estava representando o futuro daquela criança, o futuro do Japão.
Mas também nos motiva a querer continuar com o dorama, o primeiro episódio tem 1 hora e meia, e temos mais nove episódios pela frente. Se essa cena não te motivar a querer continuar assistindo o dorama, realmente esse dorama não será pra você.

Mas tem muito mais
Como eu disse antes, Antártida não tem pressa em contar a sua história. Vamos viajar pra Antártida? Ótimo o dorama vai mostrar quase que literalmente todos os preparativos, mas o destaque aqui está para a escolha dos “cães de trenó”. São cães (19 cães pra ser mais exato) da raça Sakhalin huskies (raça conhecida por aguentar baixas temperaturas e usados para trenós em ambientes congelados).
O responsável por encontrar, treinar e cuidar dos cachorros é Kuramochi, mas lembre-se ele é um professor universitário não um especialista. Então boa parte do primeiro episódio vemos a conexão que é feita entre Kuramochi e os cães, ver os cães criando confiança nele é instigante, pois não temos como negar, se tem cachorrinhos em filme ou dorama já sabemos que lágrimas vão acontecer… então se prepare. Pois a graça aqui não é de fato o que vai acontecer com os cães, pois convenhamos todo sabemos, mas como isso ocorrerá.

E veja bem, ainda estou no primeiro episódio! Mas fica tranquilo não falarei de todos os episódios aqui, mas é que eu realmente gostei deste episódio e também do segundo, são nesses episódios que o dorama mostra a que veio, desde em história como na parte técnica que é surpreendentemente bem feita.
Nos demais episódios vemos a viagem e os percalços da viagem até chegar na Antártida e assim como no primeiro episódio, o dorama não resumi nada, ele mostra tudo sem pressa, deixando a gente aproveitar e conhecer cada personagem e também os cães.
Eu assisto muita coisa japonesa desde criança, obviamente, mas eu sempre tive dificuldade em decorar o nome dos personagens (eu sempre acabo identificando eles pelo nome dos atores e atrizes rs), mas em Antártida eu consegui identificar até os nomes dos cachorros de tanto que o dorama consegue dar a importância certa pra cada um. Mas vou destacar aqui o personagem que mais me identifiquei no dorama, até mesmo mais que o protagonista, o personagem Haruhiko Himuro (Masato Sakai).
Haruhiko Himuro (Masato Sakai)
Himuro é o representante do governo na expedição, metódico, sério. Ele está lá pra ser a racionalidade entre os demais “marujos”. Mas não se engane o dorama em nenhum momento quer vender ele como vilão, pois a gente percebe na hora que ele é aquele tipo de pessoa chata, que esconde sentimentos (ou evita tê-los), mas que faria de tudo pra proteger todos os seus amigos ali (basicamente eu rs).
Ele é o personagem com o melhor desenvolvimento do dorama, enquanto Kuramochi é o nosso herói já na primeira cena e continua assim até a última, Himuro é um personagem mais complexo, cheio de camadas. Eu assistia já esperando pra quando ele iria deixar seus sentimento aflorar, e quanto isso acontece é uma cena de fato emocionante, mas supreendentemente delicada, não tem nada exagerado, tudo feito com muito bom gosto.
Então você que acha que produções japonesas são exageradas e cheias de gritos, você está certo realmente é uma característica das produções japonesa, mas aqui as coisas são mais tranquilas (até demais em alguns momentos rs), duvido você não gostar… é só assistir com boa vontade.

Esteticamente surpreendente
Antártida se passa todo na década de 50, e percebe-se que o orçamento foi grande, pois a reconstrução do Japão da época foi muito bem feita, inclusive no final eles mostram os locais como estavam no filme e como estão hoje (hoje no caso 2011 quando foi feito o dorama).
O dorama foi filmado tanto em estúdio, como em locações em Hokkaido (durante o inverno por causa da neve) e também na própria Antártida na estação real japonesa (que obviamente foi modificada para parecer como era na época) e é imperceptível a diferença, fizeram um trabalho muito bom de iluminação e também em CGI, pois existe algumas cenas (principalmente durante a navegação) que são todas em CGI.
Nessa cenas usaram uma união de maquetes e CGI para fazer o navio Soya durante a navegação e por dentro usaram uma mistura de cenários com o próprio navio Soya real, que nos dias atuais virou um museu e pode ser visitado em Tokyo. E se levarmos em conta que estamos falando de um dorama de 2011, nesse quesito não poderia ser melhor, quer dizer poderia, a trilha sonora poderia ser um pouco mais dramática rs.

Caramba Doug, melhor dorama de todos os tempos?
Realmente eu gostei bastante, porém acho que o dorama peca em duas coisas que me fizeram no final das contas terminar ele com um sentimento agridoce, e é justamente como ele lida com o termino das histórias que ele se propôs a contar.
Daqui pra frente será impossível não entrar em spoiler, embora eu não ache que saber o que acontece vai mudar sua experiência (o que acontece tá na sinopse rs), mas esteja avisado.
Além da história principal que é a expedição para a Antártida, o filme tem outra parte muito importante que é a relação dos personagens com os cachorros e algumas relações individuais, vou comentar aqui uma que acho que o dorama deu importância, mas meio que esqueceu ela no final. A história do Shinkichi Yokomine (Hisashi Yoshizawa).

Yokomine era o responsável pela comunicação da expedição com o Japão, ele fazia isso através de um telegrafo. A questão é que ele deixou no Japão uma esposa grávida, e durante a viagem ele descobre que na verdade eram gêmeos. A cena é toda bonita, onde todos os tripulantes vibraram junto com ele pelo sucesso do nascimento, tudo muito bonito. Isso acontece com eles ainda em viagem.
Porém mesmo após um ano no rigoroso inverno na Antártida, o dorama não mostra ele reencontrando sua família, inclusive a esposa dele sequer aparece mais no dorama, se fosse pra ter esse desfecho porque terem dado tanta importância? Ficaram devendo nessa.

A personagem da Haruka Ayase (Miyuki Takaoka) é outra que acho que merecia mais, ela está linda, ótima como sempre (aliás todo o elenco está impecável, até os doguinhos foram ótimos atores rs). Porém ela é renegada a ser a mocinha a espera do seu amor, no caso o Kuramochi (Takuya Kimura) e fica por aí mesmo, o que é uma pena pois eles até tentam fazer dela a representante das famílias dos “marujos” que foram se aventurar na expedição, mas isso dura pouco e ela volta a ser a mocinha, podia ter sido mais.
E veja bem, entendo que é um dorama sobre a expedição à Antártida e sobre a relação deles com os cachorros e não um dorama sobre quem ficou no Japão, mas é um dorama de 10 episódios e vários deles com quase uma hora, daria pra ter dado mais espaço pras personagens femininas. Assim como fizeram com a mãe das crianças que cederam o cachorrinho Rikki para o Kuramochi.

E o episódio final?
Tem duas coisas que eu julgo sendo as mais importantes em um dorama, ou qualquer obra feita de forma seriada, o primeiro e o último episódio. E se o primeiro episódio é primoroso, o mesmo não posso dizer para o último, as vezes parecia que foi dirigido por outras pessoas. Até atuação do Takuya Kimura achei que destoou do restante da temporada e vou te explicar o porque.
Depois do final da expedição, algo terrível acontece, o navio Soya não consegue chegar até a estação e eles precisam sair as pressas e acabam deixando os cachorrinhos pra trás. A promessa é que iriam voltar pra buscar os cachorros, mas uma tempestade de gelo acontece e eles precisam fazer uma escolha, deixar os cachorros pra trás e voltar pro Japão ou arriscar a vida de todos? Sem ter o que fazer, eles acabam indo pra a primeira opção.
As cenas da volta deles é angustiante, ver todo o sofrimento de ter que deixar os seus irmãos de pelo é muito dolorido, e o mérito é todos dos atores que conseguiram passar todo o seu sofrimento em tela, é realmente muito triste e doído, eu mesmo chorei de novo aqui rs. Mas parece que gastaram tudo aqui e deixaram a desejar no último episódio.

Kuramochi até consegue voltar para a Antártida e reencontra seus amigos doguinhos, pelo menos os que conseguiram ficar vivos, mas sinto que faltou um pouco mais de uma direção mais firme aqui, faltou um pouco de emoção, era um momento em que uma carga dramática mais exagerada faria diferença, achei que o personagem ficou “conformado” demais em perder seus amigos.
Não é porque a história é baseada em uma história real, que um pouco mais de drama não caberia bem aqui né?
Curiosidade: Antártida (2011) foi baseado em uma história real, onde após a guerra o Japão viu através de uma expedição à Antártida uma forma de se recuperar como nação, porém o que chamou a atenção no mundo, foi terem que deixar todos os 19 cães pra se viraram sozinhos, dois anos depois, uma outra expedição voltou para salvar os cachorros, mas somente dois continuaram vivos Jiro e Taro. Eles viraram o símbolo da força japonesa e são celebrados até hoje.
Existem além do dorama Antártida (2011), o filme japonês Nankyoku Monogatari (1983) e o filme americano Resgaste Abaixo de Zero (2006), aquele com o saudoso Paul Walker.

Ok Doug, mas vale a pena?
Antártida é sem dúvidas o melhor dorama que assisti esse ano (2024), é uma história densa com muita coisa acontecendo, mas sem ser lenta ou enfadonha. Consegue um ótimo equilíbrio em emoção e razão… mas poderiam ter dado uma exageradinha no drama no final.
PS: Melhores doguinhos atores de todos os tempos.
Trailer
Eu simplesmente não encontrei o trailer dele no Youtube =/
Onde assistir Antártida (2011)?
Eu assisti Antártida (2011) pela Netflix.
Alguns doramas podem não estar mais disponíveis no catálogo dos serviços de streamings e nem a venda, mas estou sempre atualizando os links… então fique sempre de olho.
[…] faz alguns dias que eu fiz o post do dorama Antartida (2011) aquele com o ator queridinho por muitos Takuya Kimura, e na chamada daquele post eu disse: “O […]
Excelente resenha , gostei de saber mais sobre os bastidores.
Realmente, é um história bem marcante pro Japão. Japão e seu histórico com cachorros hehe